



HOMENAGENS - 42ª Mostra
DRAUZIO VARELLA | JAFAR PANAHI | HIROKAZU KORE-EDA
DRAUZIO VARELLA - PRÊMIO HUMANIDADE
A notável carreira de Drauzio Varella passa e se confunde pelos caminhos da medicina, do ativismo, da literatura e do audiovisual. Nesta 42ª Mostra, homenagearemos o médico e escritor paulistano com o tradicional Prêmio Humanidade, por incentivar o debate sobre temas urgentes ligados à saúde e por sua contribuição social e cultural ao Brasil.
Dentro da programação do Fórum Mostra, será realizada uma mesa em seu tributo. “Dráuzio Varella: da Vida à Palavra; da Palavra à Imagem” trata do percurso de sua vida à literatura e, dos livros, às adaptações para o cinema e para a televisão. Também integra sua homenagem a exibição do curta-metragem Conversa com Ele (2018), dirigido por Bárbara Paz, em que o médico trava uma conversa hipotética com o amigo Hector Babenco, cineasta que faleceu em 2016.
Ativista empenhado na difusão de informações sobre saúde e prevenção, sua mensagem reverberou nas páginas dos diversos livros publicados e nas aparições em horário nobre da televisão aberta. Mas muito antes de ganhar fama nacional, o paulistano Antônio Drauzio Varella, nascido em 1943, já tinha ampla atuação na área. Formado em medicina pela Universidade de São Paulo (USP), especializou-se em cancerologia. Trabalhou como professor, no combate a doenças infecciosas do Hospital do Servidor Público Estadual e dirigiu o serviço de imunologia do Hospital do Câncer, ambos na cidade de São Paulo.
Pioneiro ao levantar a bandeira da luta contra a Aids no Brasil, criou, em 1986, campanhas de rádio que forneciam esclarecimentos sobre a prevenção da doença. Foi esse tema, inclusive, que o levou a um trabalho que expôs feridas profundas escondidas pelas grades do sistema prisional brasileiro.
Há 29 anos, o médico atravessou pela primeira vez os portões do antigo complexo do Carandiru, que funcionou até 2002 na zona norte paulistana. “Quando entrei e a porta pesada bateu atrás de mim, senti um aperto na garganta igual ao das matinês do Cine Rialto, no Brás”, escreveu na introdução de Estação Carandiru, publicado em 1999.
Como voluntário, Varella atendeu a população carcerária, dando orientações sobre prevenção e estudando a prevalência do vírus HIV nesses ambientes. Ele atuou até a desativação do presídio, atravessando alguns dos episódios mais sombrios da história da segurança pública no país.
Mesmo hoje, aos 75 anos e com a agenda atribulada, ele segue dedicado à população carcerária. Atualmente, o mesmo projeto é aplicado na Penitenciária Feminina de São Paulo, trabalho que inspirou seu livro mais recente, intitulado Prisioneiras, publicado em 2017. A obra é o terceiro título de uma trilogia temática, que começou com Estação Carandiru e teve sequência com Carcereiros, de 2012.
Em 2003, o primogênito da tríade inspirou o longa-metragem Carandiru, dirigido por Hector Babenco. A adaptação retratou detalhes da rotina no complexo prisional, culminando no sangrento massacre que teve como consequência a morte de mais de uma centena de detentos. Carcereiros também ganhou as telas, mas da televisão. A série homônima, lançada pela Globo em 2017, terá sua segunda temporada completa até o fim deste ano.
Para além das muralhas dos presídios, o empenho de Varella no trabalho preventivo se deu também em outras frentes. Com livros, palestras e colunas em jornais, apresentou ao público questões como o combate ao tabagismo e ao sedentarismo e a importância do planejamento familiar.
Paralelamente, ele participa de uma extensa pesquisa na região do baixo rio Negro, na Amazônia. O levantamento tem como objetivo desvendar possíveis usos medicinais de espécies vegetais locais. A experiência no Norte do país inspirou dois de seus títulos publicados, o mais recente Nas Águas do Rio Negro (2017) e O Médico Doente (2007), um relato de sua experiência com a proximidade da morte, após ter contraído febre amarela em uma das expedições.