



Entrevistas
"Quis criar um filme autenticamente africano, em um mundo que não sabe quase nada sobre a África."
Blitz Bazawule, também conhecido pelo nome artístico Blitz the Ambassador, é músico e diretor. Nasceu em Gana, em 1983, e se mudou aos Estados Unidos com 16 anos. Após gravar dois curtas e ter uma carreira conhecida como cantor de hip-hop, está exibindo seu primeiro longa-metragem, O Enterro de Kojo, na 42ª Mostra. No entanto, esta não é a primeira vez que Bazawule vem ao Brasil. Ele já veio se apresentar com sua banda por aqui e até gravou na Bahia partes do curta Diasporadical Trilogia (2016). Leia a entrevista com o artista:
Você já esteve no Brasil antes, mas essa é a primeira vez como cineasta?
Esta é a quinta vez que venho ao Brasil. A maioria das vezes vim para me apresentar com minha banda, como Blitz the Ambassador. Em 2012, fiz um show no Sesc Pompeia; também já estive aqui para me apresentar na Virada Cultural. Mas também fui à Bahia para filmar o curta Diasporadical Trilogia (2016). Parte dele se passa em Salvador. Em uma outra ocasião, também me apresentei no Pelourinho.
Sobre o que é o curta que você filmou na Bahia?
Filmei em Gana, Nova York e Bahia. O curta conta a história de três mulheres que, de alguma maneira, estão interligadas. Elas basicamente vivem as mesmas situações, mesmo morando em lugares diferentes. É uma ficção bastante poética.
E qual é a sensação de agora lançar o seu primeiro longa?
É ótima. Foi uma jornada bem complicada até aqui, por vários motivos. Mas acredito que conseguimos chegar a um resultado bem especial, especialmente em relação ao cinema africano. Acho que criamos um novo olhar em relação às produções africanas e estou ansioso para as pessoas verem o filme.
Você achou muito mais complicado filmar um longa?
A maioria das pessoas dizem que é a coisa mais difícil do mundo filmar um longa. Para mim, não foi difícil planejar as etapas do filme. O mais complicado foi a parte mental. Eu quis criar um filme autenticamente africano, em um mundo que não sabe quase nada sobre a África. Por causa do alto custo de uma filmagem, muitos poucos africanos podem entrar no meio. Então, criar um projeto como esse foi muito difícil, porque não temos um passado de cinema, não existem muitos trabalhos cinematográficos autenticamente africanos. Por isso, não dá para simplesmente seguir algo que já está sendo feito. Tive que começar do meu próprio jeito.
Mas você teve algum tipo de incentivo para filmar?
Não tive ajuda alguma. Eu paguei pela filmagem e, depois, finalizei por meio de crowdfunding. Ninguém quis investir em um filme sobre a África. Se não envolve guerra, doenças e outras coisas estereotipadas do continente, não desperta o interesse dos produtores. Mas tive muita sorte, porque tenho uma base de fãs grande nos Estados Unidos, por conta da música, e consegui arrecadar cerca de US$ 80 mil via crowdfunding. O bom disso tudo é que tive autonomia e liberdade para arriscar e filmar em estilos nada convencionais, mas que são verdadeiros para nós, povo africano.
Acha que seu filme pode incentivar novos talentos africanos?
Os meios de produção para um filme estão ficando cada vez mais acessíveis e, hoje em dia, dá para criar obras de bastante qualidade. As pessoas de diversos lugares do planeta têm a oportunidade de mostrar suas obras da maneira que elas querem, e não como Hollywood deseja. Podemos cada vez mais mostrar como é o nosso mundo de maneira autentica. Dez anos atrás, isso não seria possível, porque as pessoas não tinham acesso às mídias necessárias para se fazer um bom filme.
E por que você decidiu contar a história desses dois irmãos?
É uma história bem humana, que tem o ponto de vista de uma pequena garota negra. O filme é contado de um jeito que eu acho que o cinema jamais viu. Também quis fazer um filme que mostrasse os africanos de uma maneira que as pessoas não conhecem.
Já foi exibido na África?
Ainda não. Depois daqui, vamos exibi-lo em Londres e depois em Gana e Joanesburgo, na África do Sul. Estou animado em levar o filme para casa e de meus irmãos poderem ver eles mesmos de uma maneira que eu acho que nunca viram no cinema. Acho que vão ficar felizes em ver um filme de qualidade na língua nativa de Gana. Será uma novidade para eles.
Então é um filme bem verdadeiro para a sua cultura.
Absolutamente. Para mim, essa é a única razão para se fazer um filme: alcançar as partes mais profundas da nossa história pessoal.
Bárbara Stefanelli
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Blitz Bazawule, também conhecido pelo nome artístico Blitz the Ambassador, é músico e diretor. Nasceu em Gana, em 1983, e se mudou aos Estados Unidos com 16 anos. Após gravar dois curtas e ter uma carreira conhecida como cantor de hip-hop, está exibindo seu primeiro longa-metragem, O Enterro de Kojo, na 42ª Mostra. No entanto, esta não é a primeira vez que Bazawule vem ao Brasil. Ele já veio se apresentar com sua banda por aqui e até gravou na Bahia partes do curta Diasporadical Trilogia (2016). Leia a entrevista com o artista:
Você já esteve no Brasil antes, mas essa é a primeira vez como cineasta?
Esta é a quinta vez que venho ao Brasil. A maioria das vezes vim para me apresentar com minha banda, como Blitz the Ambassador. Em 2012, fiz um show no Sesc Pompeia; também já estive aqui para me apresentar na Virada Cultural. Mas também fui à Bahia para filmar o curta Diasporadical Trilogia (2016). Parte dele se passa em Salvador. Em uma outra ocasião, também me apresentei no Pelourinho.
Sobre o que é o curta que você filmou na Bahia?
Filmei em Gana, Nova York e Bahia. O curta conta a história de três mulheres que, de alguma maneira, estão interligadas. Elas basicamente vivem as mesmas situações, mesmo morando em lugares diferentes. É uma ficção bastante poética.
E qual é a sensação de agora lançar o seu primeiro longa?
É ótima. Foi uma jornada bem complicada até aqui, por vários motivos. Mas acredito que conseguimos chegar a um resultado bem especial, especialmente em relação ao cinema africano. Acho que criamos um novo olhar em relação às produções africanas e estou ansioso para as pessoas verem o filme.
Você achou muito mais complicado filmar um longa?
A maioria das pessoas dizem que é a coisa mais difícil do mundo filmar um longa. Para mim, não foi difícil planejar as etapas do filme. O mais complicado foi a parte mental. Eu quis criar um filme autenticamente africano, em um mundo que não sabe quase nada sobre a África. Por causa do alto custo de uma filmagem, muitos poucos africanos podem entrar no meio. Então, criar um projeto como esse foi muito difícil, porque não temos um passado de cinema, não existem muitos trabalhos cinematográficos autenticamente africanos. Por isso, não dá para simplesmente seguir algo que já está sendo feito. Tive que começar do meu próprio jeito.
Mas você teve algum tipo de incentivo para filmar?
Não tive ajuda alguma. Eu paguei pela filmagem e, depois, finalizei por meio de crowdfunding. Ninguém quis investir em um filme sobre a África. Se não envolve guerra, doenças e outras coisas estereotipadas do continente, não desperta o interesse dos produtores. Mas tive muita sorte, porque tenho uma base de fãs grande nos Estados Unidos, por conta da música, e consegui arrecadar cerca de US$ 80 mil via crowdfunding. O bom disso tudo é que tive autonomia e liberdade para arriscar e filmar em estilos nada convencionais, mas que são verdadeiros para nós, povo africano.
Acha que seu filme pode incentivar novos talentos africanos?
Os meios de produção para um filme estão ficando cada vez mais acessíveis e, hoje em dia, dá para criar obras de bastante qualidade. As pessoas de diversos lugares do planeta têm a oportunidade de mostrar suas obras da maneira que elas querem, e não como Hollywood deseja. Podemos cada vez mais mostrar como é o nosso mundo de maneira autentica. Dez anos atrás, isso não seria possível, porque as pessoas não tinham acesso às mídias necessárias para se fazer um bom filme.
E por que você decidiu contar a história desses dois irmãos?
É uma história bem humana, que tem o ponto de vista de uma pequena garota negra. O filme é contado de um jeito que eu acho que o cinema jamais viu. Também quis fazer um filme que mostrasse os africanos de uma maneira que as pessoas não conhecem.
Já foi exibido na África?
Ainda não. Depois daqui, vamos exibi-lo em Londres e depois em Gana e Joanesburgo, na África do Sul. Estou animado em levar o filme para casa e de meus irmãos poderem ver eles mesmos de uma maneira que eu acho que nunca viram no cinema. Acho que vão ficar felizes em ver um filme de qualidade na língua nativa de Gana. Será uma novidade para eles.
Então é um filme bem verdadeiro para a sua cultura.
Absolutamente. Para mim, essa é a única razão para se fazer um filme: alcançar as partes mais profundas da nossa história pessoal.
Bárbara Stefanelli